Se
o Tiro Esportivo é um Esporte, então você
é um Atleta!
Antes
de entrarmos no assunto propriamente dito, acho oportuno fazer
algumas colocações:
Tudo
que escrevo nos meus artigos é fruto da minha vivência
pessoal como atirador, do que aprendi no convívio com os
técnicos Silvino Ferreira e Karl Schlomer, mais recentemente
do trabalho como técnico da equipe brasileira que disputou
os Jogos Pan-Americanos de 2007, da troca de experiência
com os colegas atiradores, dos cursos que fiz e, principalmente,
dos constantes estudos nas áreas relacionadas ao treinamento
esportivo e ao comportamento humano.
Tenho
como convicção, que a única certeza é
que tudo se modifica constantemente. As “verdades”
são momentâneas e aquele que pensa que sabe tudo,
sucumbe na obsolescência e na ignorância. Na realidade,
o melhor sempre é diferente. Se não fosse assim,
seria no máximo, igual. Portanto pensem, questionem e divirjam,
pois só assim poderemos melhorar.
Como frisei no meu artigo inicial, o Tiro Esportivo é um
Esporte! Como tal, possui fundamentos que devem ser corretamente
treinados, desde o início. Como tal, requer treinamentos
físico, técnico, tático-estratégico
e psicológico, exigindo uma equipe multidisciplinar e embasamento
científico.
Relendo
a afirmação acima, você atirador esportivo,
deve estar pensando: isso é coisa para atleta! Meus parabéns,
você acabou de chegar a uma conclusão muito importante:
Você é um atleta!
Buscando
o apoio do Dicionário Aurélio, chegamos às
seguintes definições:
Atleta - toda pessoa que pratica um esporte.
Atirador - disparador de uma arma de fogo.
Atingimos
então o ponto principal do nosso artigo de hoje: você
tem o livre arbítrio para decidir entre ser um atleta do
tiro esportivo ou apenas um disparador de arma de fogo. Mas se
escolher a segunda opção, por favor, não
“se encha o saco” cobrando-se resultado.
O
Treinamento Esportivo é definido como sendo o processo
ativo complexo regular, planificado e orientado para a melhoria
do aproveitamento e desempenho esportivos. (Carl – 1989)
Complexo,
por ser um processo ativo que visa obter determinados efeitos
sobre todas as características de um atleta. Planificado,
por preestabelecer objetivos, o método, o processo e a
organização do treinamento, sendo a execução
controlada e os seus efeitos / resultados avaliados regularmente
através de testes, de modo que os objetivos visados sejam
atingidos. Orientado, uma vez que todas as ações
e procedimentos dentro de um treinamento esportivo levam a um
caminho direto para se atingir os objetivos. (Jürgen Weineck
– 2003)
Muitas
vezes ao expor isso para alguns atiradores, recebo a seguinte
resposta: eu não quero ser um campeão...vejo o tiro
apenas como uma diversão. Pessoalmente, não acredito
muito nessa afirmação, mas respeito a escolha.
Para
mim, a grande diversão está exatamente em se superar,
na obtenção do autocontrole emocional, em melhorar
constantemente o seu desempenho. Quer coisa mais divertida do
que subir ao podium para receber uma medalha de ouro? Mas, vamos
em frente.
Quando
em 2004 decidi me dedicar exclusivamente ao trabalho de técnico,
sabia que teria muito a aprender, mas nem de longe imaginava o
quanto.
Quanto
mais estudo e aprendo, mais percebo a distância que nos
separa das práticas modernas do treinamento esportivo.
Na realidade, estamos iniciando os primeiros passos.
Para
compreender melhor essa colocação, basta olharmos
os nossos resultados internacionais nos últimos 15 anos.
Todos nossos casos de sucesso foram frutos de trabalhos de equipes
multidisciplinares, mesmo que de forma empírica. Vou citar
apenas dois exemplos que caracterizam bem o que digo:
1- A medalha de bronze individual do Jodson Edington nos Jogos
Pan-Americanos de Mar Del Plata / ARG (1995). Apesar de não
contar com uma equipe técnica especializada em Tiro Esportivo,
o trabalho realizado foi abrangente e de certa forma planificado.
2- O trabalho feito nas Academias Militares, em especial na AMAN
e na AFA, reunindo equipes multidisciplinares focadas no treinamento
do Tiro Esportivo. Esse trabalho tem garantido a nossa renovação,
produzindo a maior parte dos atletas integrantes da Seleção
Nacional. Já colheu inclusive medalhas em Campeonatos Mundiais
Militares.
É
lógico que existem outros exemplos de sucesso, porém,
fruto de grandes esforços pessoais, sem nenhuma base científica.
Chamo isso de “achismo”.
Agora que muitos estão indignados e a ponto de me enviarem
um e-mail “mal criado”, quero esclarecer o seguinte:
essa realidade não é só nossa, é assim
na maioria dos países.
Poucos
são os que possuem escolas para capacitação
de técnicos de tiro esportivo, incluindo uma grade curricular
que contemple o exigido, para formação de um profissional
realmente preparado para esse desafio.
Esse
sem dúvida é o “segredo” das grandes
potências olímpicas do nosso esporte: técnicos
cientificamente formados apoiados por equipes multidisciplinares.
Junte-se
a isso a disponibilidade dessas equipes em centros de excelência,
e a iniciação na idade correta (9 a 11 anos) e,
em pouco tempo, inicia-se a colheita das medalhas internacionais.
Não de forma esporádica, mas constante.
Como
falei, estamos dando os primeiros passos, e dentre esses se inclui
a iniciativa do FFC com a implantação do Centro
de Excelência do Tiro Esportivo Silvino Fernandes Ferreira
- CETE
Silvio
Aguiar
silvio.aguiar@gmail.com