Posição - o primeiro fundamento a ser aprendido
e treinado
Mas antes, já estamos com
o conjunto atirador-arma corretamente alinhado? Se a resposta
for não, cuide do alinhamento antes de prosseguir.
Para efeito de aprendizado e treinamento,
divido o fundamento posição em dois segmentos: posição
exterior e posição interior.
A posição exterior
é aquela que se observa olhando o atirador e é responsável
pelo correto posicionamento do conjunto atirador-arma em relação
ao alvo. Assumi-la é simples; basta entrar no posto de
tiro, e de olhos fechados levantar a arma até a altura
de disparo, aguardando de olhos fechados, sua estabilização
natural. Abra então os olhos e verifique o posicionamento
do jogo de miras em relação ao alvo. Corrija tanto
os desvios laterais como verticais, acertando o corpo e/ou realizando
ajustes finos no conjunto atirador-arma. O importante é
que, sem nenhum esforço ou movimento, as miras estejam
alinhadas e pelo menos, na vertical certa da zona de disparo.
Conseguir uma correta posição
exterior é simples e fácil, mas indispensável
para iniciar qualquer exercício no estande ou em casa.
Mesmo que você tenha ajustado o seu alinhamento com o alvo
nas primeiras levantadas, não se dê por satisfeito
até completar dez verificações.
Vamos agora para o fundamento
posição interior.
Diferente da posição
exterior, ninguém além do atirador é capaz
de perceber esse fundamento. A posição interior
é um “comportamento”. É a maneira pela
qual nosso corpo trabalha para manter a estabilidade e a imobilidade
do conjunto atirador-arma.
Como vimos no artigo anterior,
para cada elemento a ser aprendido necessitaremos inicialmente
definir claramente o seu modelo mental. Para que você possa
montar o modelo mental da posição interior, vamos
utilizar a seguinte definição: a posição
ideal é aquela que nos possibilita a imobilidade e estabilidade
de uma estativa, com o mínimo de consumo de energia e o
máximo de conforto; é como se o conjunto atirador-arma
se transformasse numa estátua, imóvel, perene; sempre
na mesma posição, sem que nada perturbe esse estado
de imobilidade antes, durante e depois do disparo, durante todos
os disparos; sempre na mesma posição. Ou seja, no
limite da excelência você e sua arma irão se
transformar numa estátua, firme, imóvel, posicionada
sempre igual em relação ao alvo.
Uma estátua (ou estativa)
nos leva a visualizar a eficácia máxima, com todos
os disparos atingindo o mesmo ponto no alvo, cujo grupamento só
depende da qualidade da munição utilizada.
Seria fácil se fossemos
feitos de metal. Infelizmente temos músculos, articulações,
ossos, ou seja, um conjunto impossível de ser mantido imóvel,
gerando na ponta do cano uma oscilação denominada
arco de movimento. A amplitude do arco de movimento determina
o grau de dificuldade do atirador em realizar um bom agrupamento
de tiros no alvo. É muito importante frisar, que não
existe nenhum atirador que tenha um arco de movimento de amplitude
zero, ou seja, que consiga manter a arma totalmente imóvel.
Para contrapor a essa deficiência,
fomos dotados de um supercomputador capaz de reproduzir de forma
muito próxima o estado corporal ideal e controlar de forma
pró-ativa a estabilidade do conjunto atirador-arma; o suficiente
para manter a amplitude do nosso arco de movimento dentro de uma
área equivalente ao centro, e durante o tempo necessário
para acionar com tranqüilidade a tecla do gatilho. Para que
possamos assumi-la e mantê-la de forma inconsciente, basta
gravar nesse computador o software correto da posição
ideal, ou seja, criar o hábito puro do fundamento posição
(interior).
Portanto, as premissas para montar
o modelo mental são: estabilidade, imobilidade, conforto
e baixo consumo de energia.
Estabilidade é alcançada
pela correta distribuição do peso da arma no conjunto
atirador-arma. A melhor maneira de chegarmos à estabilidade
ideal é distribuirmos igualmente o peso em ambos os pés.
A distribuição é correta, quando eliminamos
(minimizamos) o movimento natural do conjunto, pela busca do ponto
de equilíbrio.
Imobilidade, como sabemos, é
uma utopia; e como toda utopia funciona como as estrelas para
o navegador: são inatingíveis, mas servem para lhe
orientar e mostrar rumo a seguir.
A busca pela imobilidade é
a luta eterna do atirador. Sozinha não é garantia
de bom resultado, mas sem ela, é certeza de um mau resultado.
A melhora da imobilidade é percebida pela diminuição
do arco de movimento, e conseguida à custa de constantes
exercícios isométricos, ou seja, sustentação
da arma (ou peso equivalente) por tempo superior ao necessário
para o disparo. Na realidade, o exercício para desenvolvimento
da posição interior, como veremos mais adiante,
é a base para a diminuição do arco de movimento
por englobar na sua execução o exercício
isométrico.
Conforto significa que a posição é cômoda
e assumida sem maiores esforços, principalmente sem tensões
musculares desnecessárias. Quanto mais natural a sua posição,
mas fácil você irá repeti-la e mantê-la.
Lembre-se que os nossos objetivos são: ser imóvel
como uma estátua, durante o disparo, e assumir a mesma
posição, a cada disparo. Se sua posição
é “forçada”, ela é possível
de ser algumas vezes repetida, mas impossível de ser replicada
centenas de vezes. Algumas posições são tão
“forçadas” que mesmo durante o pequeno tempo
do disparo sofrem modificações, muitas vezes espasmódicas.
Baixo consumo de energia pressupõe
a utilização unicamente dos grupos musculares necessários
à sustentação do conjunto atirador-arma.
Todo músculo que não for necessário para
a sustentação da arma e manutenção
da estabilidade, deve estar relaxado. Esse estado de relaxamento
contribui inclusive para o conforto da posição.
Agora que você tem todas
as informações para montar o seu modelo mental da
posição interior, vamos ao exercício para
desenvolver e fixar o hábito correto do fundamento.
O exercício para o aprendizado do fundamento pode ser feito
no estande e/ou em casa, no seu “quarto” de treinamento.
O rendimento maior se obtém treinando em casa.
Primeiro, necessitamos de criar
um mecanismo que nos permita aferir a nossa evolução
técnica nesse fundamento. Algo que nos indique o grau de
oscilação do corpo e a amplitude do nosso arco de
movimento.
No estande, utilizaremos a zona
de visada do alvo normal como referência, ou seja, a região
abaixo do alvo onde normalmente mantemos a figura alça-massa
durante o disparo. Em casa, utilizaremos uma área circular
branca para reproduzir a zona de visada, que inicialmente terá
uma área proporcional ao nosso arco de movimento. Com o
desenvolvimento técnico, reduziremos progressivamente da
área branca, até chegar a uma zona que permita manter
com pequena folga a figura alça-massa.
É importante que o círculo
fique posicionado à uma distancia de mais ou menos um metro
da ponta da arma e na altura equivalente à altura da zona
de disparo do alvo nas medidas padrões e corretas do estande.
Caso contrário, você irá desenvolver uma memória
muscular errada, que irá produzir um hábito incorreto
da posição interior.
O exercício consiste em
levar a figura alça-massa para dentro do círculo
(ou para a zona de visada, quando no estande), fechar os olhos
e interiorizar o pensamento buscando reproduzir sua posição
conforme o modelo mental da posição interior correta.
Comece a construir sua posição pela sola dos pés,
passando pela musculatura das pernas, quadril, tronco, cintura
escapular, ombro, braço, antebraço, pulso, mão,
dedo indicador, até chegar à ponta da arma. Controle
mentalmente a distribuição uniforme do peso em ambos
os pés, mantendo a estabilidade do conjunto, sentindo o
aumento progressivo da imobilidade do conjunto atirador-arma e
redução do arco de movimento, relaxando cada músculo
do corpo que não está sendo usado na sustentação
da arma e no controle da oscilação do conjunto.
Faça isso, mantendo a arma estática no espaço,
como se seu corpo estivesse “pendurado” e sustentado
por ela. Após 30 a 40 segundos, abra os olhos e confira
se a figura alça-massa se manteve dentro do círculo
branco que representa a zona de visada (ou dentro da zona de visada,
quando no estande). Para cada dez exercícios, sustente
a arma com o braço oposto, por cerca de um minuto.
Use a sua percepção
sinestésica para criar a memória muscular da posição
interior, bem como a ação pró-ativa dos grupos
musculares que atuam no controle da oscilação do
conjunto atirador-arma, fundindo atirador e arma num único
“ser”. Depois que você conseguir reproduzir
sua posição interior conforme o modelo mental elaborado,
você terá aprendido o fundamento e terá “ensinado”
o seu cérebro como você quer que o seu corpo se comporte
durante o disparo.
Agora é treinar, treinar,
treinar....é a prática repetitiva e disciplinada
para fixar o hábito desenvolvido.
“Milhares de repetições, e a perfeição
emerge a partir do nosso verdadeiro ser.” – Provérbio
Zen.
No contexto da metáfora do jardim de Mario Quintana, cuidar
da posição interior é manter a “saúde”
do nosso solo.
Com o tempo, você será
capaz de, com os olhos fechados, trazer e manter a figura alça-massa
dentro do círculo branco. Quanto tempo? Bem, os chineses
dedicam o primeiro ano de treinamento apenas para esse fundamento.
Só depois passam para o fundamento acionamento. Acredite
se quiser.
Utilize sua inteligência
para transportar o exercício para sua modalidade, seja
ela feita com pistola, carabina ou espingarda.
Silvio
Aguiar
silvio.aguiar@gmail.com