Respiração
No
nosso esporte, o fundamento respiração passa quase
sempre despercebido dos atiradores. Talvez por se tratar de uma
atividade natural do nosso organismo, é visto pela maioria
como o fundamento de fácil execução.
Porém,
devido à importância da adequada oxigenação
do nosso organismo (e, por conseguinte do SNC) na execução
de qualquer ação motora, a desatenção
à respiração ocasiona grandes prejuízos
no desempenho dos atletas do tiro esportivo.
Sua
relevância começa na preparação para
o exercício e transcende às necessidades próprias
da atividade de disparar, indo muito além da forma correta
de respirar durante a execução do processo.
O
nosso primeiro passo será aprender a técnica correta
de respirar.
Em
todos os livros sobre meditação ou concentração
encontramos capítulos especiais sobre a importância
da respiração na obtenção dos estados
de relaxamento corporal e tranqüilidade psíquica.
As técnicas ou habilidades para cultivar um “talento
interior” baseiam-se primordialmente na “observação
da respiração”.
Normalmente,
respiramos utilizando a musculatura do peito, que além
de transferir muito menos oxigênio para o organismo, provoca
tensões musculares desnecessárias.
Para
respirarmos corretamente, devemos inspirar e expirar pelo nariz,
utilizando o diafragma, ou seja, os músculos do abdômen
inferior, como um fole que infla e esvazia os pulmões,
dando-nos a sensação de enchermos o nosso estômago
de ar. Esse modo de respirar propicia uma maior oxigenação
das paredes pulmonares, produzindo consequentemente uma melhor
oxigenação do nosso organismo.
No
estande, já na fase de preparação (alongamento
e aquecimento), utilizamo-nos da respiração para
criar o estado ótimo emocional. Observando-a, alcançamos
gradativamente o estado adequado para a prática do tiro
esportivo.
No
posto de tiro, encontramos na respiração, o caminho
apropriado para manter-nos atentos à nossa lista de tarefas,
impedindo que algum detalhe da sua organização seja
esquecido.
Além
disso, a manutenção da atenção nas
ações de preparação do posto nos permite
afastar pensamentos impróprios, principalmente aqueles
que minam a confiança na nossa capacidade de realizar.
Posto
arrumado, o atleta passa a preparar o corpo e a mente para execução
do “ritual” do disparo. Mais uma vez, a respiração
é a base para manter o ritmo adequado e o estado de concentração
necessário à conservação da atenção
no presente.
Durante
o disparo, inspira ao erguer o braço e expira enquanto
leva a figura alça/massa para a zona de visada. A partir
desse momento o atleta se desliga da respiração,
dirigindo toda a sua atenção para o alinhamento
da figura alça/massa, passando a respirar de forma laminar.
Assim,
durante um largo período executando a respiração
superficial, reduzimos progressivamente a qualidade da oxigenação
do organismo. Essa prática, muito comum até em atletas
experimentados, resulta numa insuficiência crônica
de oxigênio no organismo, afetando as funções
controladas pelo SNC, em especial a acuidade visual, a atenção,
o tônus muscular, a manutenção do arco de
movimento, o equilíbrio e a estabilidade da posição.
Não
é difícil concluir que a baixa oxigenação
do organismo prejudica de forma direta o desempenho do atleta
de tiro esportivo.
Para
não cair na sorrateira armadilha da insuficiência
de oxigênio, antes de cada levantada do braço, devem-se
produzir no mínimo dois ciclos de respiração
abdominal. Essa prática, além de garantir a oxigenação,
reproduz o estado de tranqüilidade e de concentração.
Ao passar a atenção para o ciclo respiratório,
o atleta descansa a mente, reduz o gasto de “energia mental”
e evita o assédio de pensamentos indesejados.
Durante
o processo de disparo propriamente dito, a respiração
entra como um dos fundamentos, sendo executada em sincronia com
o movimento da arma até a zona de visada. Ao levantarmos
o braço, executamos uma inspiração. Ao iniciarmos
a descida para a zona de visada (ou seja, o “repouso”
da figura alinhada na zona de visada), expiramos lentamente e
trancamos ou não a respiração ao atingi-la.
Cabe
lembrar, que ao final da expiração, temos maior
facilidade em manter a estabilidade e a imobilidade do conjunto
arma/atirador, por ser um momento em que todo o corpo experimenta
uma natural quietude. Além disso, a caixa torácica
esvaziada minimiza para o resto do corpo a transmissão
dos movimentos de bombeamento executados pelo coração.
Ao contrário, com os pulmões cheios, pode-se perceber
o batimento cardíaco na ponta da arma.
A
quantidade de ar que devemos manter nos pulmões não
é relevante, e não deve ser uma preocupação
do atleta. Ninguém melhor do que o nosso cérebro
para calcular esse volume.
O importante é sabermos que após um determinado
tempo, o organismo motivado pelo acúmulo de CO2 resultante
das oxidações celulares, solicitará uma nova
inspiração. O CO2 acumulado é trocado nos
pulmões pelo O2 do ar inspirado, sendo em seguida eliminado
pela expiração.
Podemos
então concluir que o tempo ideal para execução
do disparo é inferior ao tempo de saturação
da taxa de CO2 do organismo do atleta.
Felizmente,
antes de atingirmos o nível limite de CO2, o SNC envia-nos
uma informação de “alarme de tempo excedido”
que deve ser imediatamente atendido com a suspensão do
processo, ou seja, “refugando” o tiro. Esse alarme
é percebido (sucedido) pelo aumento do arco de movimento,
pela desatenção à figura da massa/alça
e pela perda da acuidade visual, impossibilitando a manutenção
da imagem alinhada do aparelho de pontaria.
Como
já mencionamos em artigos anteriores, o não atendimento
ao alarme de “tempo excedido” é imediatamente
contraposto pelo cérebro com a interrupção
do acionamento, último recurso para impedir o desastre
iminente.
Assim
sendo, nas modalidades de precisão, o tempo ideal de disparo
do atleta é regulado pela neuromecânica da respiração,
e o não atendimento aos sinais fisiológicos do alarme
é a principal causa dos impactos fora do agrupamento.
Na
modalidade de Tiro Rápido, nas séries rápidas
da Pistola Standard e no duelo do Fogo Central e da Pistola Sport,
“refugar o disparo” não é possível.
Nesses casos, a rotina preparatória deve incluir obrigatoriamente
a prévia ventilação dos pulmões e
o sincronismo da respiração com os movimentos que
antecedem a abertura do alvo (ou o acender da luz verde). Porém,
por serem efetuados em tempos curtos, os processos de disparo
felizmente sempre terminarão antes da necessidade orgânica
de uma recarga de oxigênio.