Acompanhamento
(Follow-through)
Acompanhamento,
o último fundamento do processo do Tiro Certo é
na realidade, a tomada e a manutenção da atitude
correta de execução do processo.
A
palavra em inglês utilizada para denominar esse fundamento
define melhor o seu significado: follow-through,
onde “follow” representa acompanhamento, e “through”
representa sem interrupção, ou seja, até
o fim.
Dessa
forma, usaremos o termo em inglês, e para não ter
que reescrevê-lo várias vezes no decorrer do artigo,
empregarei no seu lugar a sigla FT.
A
expressão “acompanhar” pressupõe manter
nossa mente consciente atenta à (ocupada com a) ação
em andamento, sincronizando corpo e mente, ou seja, mantendo uma
atitude mental de total atenção ao
processo em execução.
Antes
de prosseguir, devo lembrar que vivenciamos dois estados de atenção:
a atenção voltada para o aprendizado e treinamento
(atenção crítica), e a atenção
voltada à realização confiante da habilidade
motora treinada (atenção confiante).
Se
você leu o artigo “Atitude de Competição”,
deve se lembrar que distinguimos, da mesma forma, a abordagem
de aprendizado e treinamento como sendo crítica,
e a abordagem de competição como sendo confiante.
Transcrevo
aqui dois parágrafos desse artigo:
Na
abordagem crítica, o atirador analisa cada ação,
comparando-a a um modelo mental pré-estabelecido, realizando
as correções necessárias para reproduzi-lo;
na confiante, o atirador simplesmente executa a ação.
A crítica é muito consciente; a confiante permite
o tiro fluir de forma quase inconsciente.
Na
abordagem crítica vivenciamos e preparamos nosso “atirador
executor”, enquanto na abordagem confiante vivenciamos nosso
“atirador competidor”. O “competidor”
é responsável por aprontar e liberar o “executor”,
sem interferir no seu trabalho nem criticar o seu desempenho.
Após prepará-lo, simplesmente o assiste em ação,
dentro do que ele foi treinado para fazer, tiro a tiro. Dessa
forma, tem autonomia apenas para interrompê-lo.
Assim,
o FT em ambas as situações, mantém sua essência,
alterando sua forma de acordo com o momento vivido. Hora crítica,
hora confiante.
Quando
aprendemos ou treinamos um fundamento, o FT é a atenção
crítica sobre a realização do mesmo, possibilitando
atingirmos e mantermos o estado mental ideal para o aprendizado
e treinamento da habilidade motora.
Quando
executamos o processo contínuo, o FT é a atitude
de atenção confiante na preparação
e na observação da execução do processo.
Entender
essa diferença é fundamental para chegarmos ao estado
ideal de fluência, ou seja, o nível de competência
inconsciente que nos permite realizar 100% dos disparos como processos
de “Tiro Certo”.
Conseqüentemente,
o FT está diretamente ligado à disciplina e à
atitude mental do atleta, seja durante os exercícios de
treinamento, seja durante a realização de um teste
pedagógico ou competição.
Durante
um exercício de treinamento, acompanhar com toda a atenção
sua execução do início ao fim é, a
meu ver, mais fácil de compreender. Talvez, o que poucos
têm consciência é que ao fazê-lo, estão
exercitando também o FT.
A
confusão ocorre quando se trata do FT no processo contínuo
do disparo.
Nesse
caso, na maioria das vezes é simplificado pela manutenção
da atenção no alinhamento da figura alça/massa
por um espaço de tempo após o disparo.
Isso
leva o atleta a acreditar que basta manter-se atento à
figura de visada para executar corretamente o FT. É um
engano, ou melhor, um grande erro.
Você
pode manter-se atento à figura e estar dividindo essa atenção
com outros pensamentos, como por exemplo, o resultado do último
disparo ou o resultado do disparo em andamento.
A
atenção exclusiva na figura também pressupõe
que o processo só se inicia no momento em que passamos
a observá-la, o que também está errado.
Como
falamos no início, o FT é na realidade, a atitude
correta de execução do próprio processo do
Tiro Certo. Ele começa no momento em que iniciamos a sua
preparação e termina (agora sim), um momento após
o disparo ocorrer.
Cabe
lembrar que o Tiro Certo, por sua vez, é um processo contínuo,
composto de habilidades motoras treinadas em separado, e executadas
de maneira concatenada e inconsciente, porém sob a nossa
observação e aprovação.
Portanto,
falar do FT é falar do processo do Tiro Certo como um todo,
o qual reúne posição, empunhadura, respiração,
visada e acionamento, em uma ação única,
contínua e inconsciente.
Sei
que não é fácil para o iniciante compreender
a essência do FT, pois só irá percebê-lo
em sua plenitude ao atingir o estado de competência inconsciente.
Mas,
desde o início, o FT pode e deve ser treinado, pois só
assim irá se tornar futuramente um hábito.
Como
vimos no artigo “Primeiro aprender, depois Treinar”,
a distração é a causa principal, tanto dos
erros de aprendizagem como do desenvolvimento de hábitos
incorretos. Não há como aprender uma habilidade
motora sem dispensar à sua preparação e execução,
100% da nossa atenção.
Deste
modo, já no aprendizado de cada fundamento treinamos o
FT, mantendo 100% da atenção no que se está
realizando.
Nessa
fase, o FT começa na preparação do modelo
mental da habilidade em aprendizado, continua na execução
da mesma, e se prolonga durante a comparação da
ação executada com o referido modelo, possibilitando
a retro-alimentação e correção oportuna
da sua execução.
A
manutenção do nível de qualidade da atenção
na fase de aprendizado, não só garante a qualidade
do hábito desenvolvido, como reduz em muito o tempo de
aprendizado. Essa redução nos permite iniciar antecipadamente
também a fase de treinamento, e conseqüentemente,
atingir desempenhos de alto rendimento em menor espaço
de tempo.
Mas,
e a tal atenção na figura da alça/massa,
o que tem a ver com o FT?
No
artigo sobre “Visada”, vimos que:
“Manter,
durante todo o processo do disparo, a figura da alça/massa
alinhada dentro da zona de visada, garante um agrupamento de impactos
no alvo proporcional à amplitude do seu arco de movimento,
desde que não cometa erros de acionamento.”
A
figura alça/massa funciona, a partir do momento que passamos
a observá-la, como o “monitor” do processo
Tiro Certo. Ocupando 100% da nossa mente consciente, a observação
da sua imagem possibilita não só executar os demais
fundamentos de forma inconsciente como impede o assédio
de pensamentos inoportunos.
Chamo-a
de “monitor do processo” porque é através
da sua imagem que assistimos sua correta execução,
e da mesma forma, quando algum fundamento apresenta “erro
de execução”, é também através
da sua imagem que somos alertados para interromper o processo,
refugando o disparo.
E
o que é então o FT até esse momento em que
passamos a atenção para a figura alça/massa?
Como
foi dito, é a atitude de total atenção que
assumimos já na preparação para a execução
do processo. No momento em que iniciamos nossa “lista de
verificação”, simultaneamente à rotina
respiratória, a adoção do tônus muscular
adequado (posição interior), o acerto da empunhadura
(posicionamento da mão e pressão), a colocação
acertada do dedo sobre a tecla do gatilho, ativando a firmeza
do pulso, repassando mentalmente (se possível fisicamente)
a flexão correta do dedo indicador, na definição
clara da tarefa a ser executada (alça e massa alinhada
antes, durante e depois do disparo), na produção
do estado de confiança e certeza na capacidade de executá-la.
Ele
se inicia na “preparação para decolagem”
e prossegue:
Com
a certeza absoluta de que faremos um Tiro Certo, elevamos o braço
acima do alvo, enquanto respiramos normalmente. A subida deve
ser natural, mas mantendo a firmeza do pulso e a pressão
da empunhadura. Ao chegar ao ponto alto do movimento, aguarda-se
por um instante o corpo estabilizar enquanto alinhamos a figura
alça/massa. Sem perder o ritmo natural da respiração,
abaixa-se o braço, “pousando” a figura alça/massa
na zona de visada, num movimento reto, natural e firme como o
de subida.
Cabe
lembrar que a chegada à zona de visada deve coincidir com
uma expiração, que a partir desse ponto é
interrompida ou mantida laminar, até o final do processo.
Com
a figura na zona de visada, assistimos a diminuição
do arco de movimento, enquanto que de forma inconsciente, o dedo
indicador aumenta independente e continuamente sua força
sobre a tecla do gatilho, na forma que foi treinado.
Sem
interferir, assistimos ao Tiro Certo, mantendo apenas nossa atitude
de total atenção antes, durante e
depois do disparo.
O
Tiro Certo, quando executamos de forma correta o Follow-through,
não é realizado, é assistido, dando-nos a
certeza que algo especial ocorreu.
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